sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Educação para a paz, Opinião, A Tarde. 23/2/2008.

A argumentação continua sendo o melhor substituto ao uso da força e da violência. Nem sempre conversando a gente se entende, mas quando há entendimento, um diálogo, franco e desimpedido, certamente, o antecede. Uma educação que pretenda contribuir para a formação de uma cultura de paz, deve ter no uso da argumentação seu principal exercício e método. Excetuando as poucas situações onde os fatos são absolutamente evidentes e as demonstrações (lógico-matemáticas) são irrefutáveis, temos um vasto domínio aberto à discussão.

Negociamos, de maneira argumentativa, valores éticos, políticos e estéticos. E não poderia ser diferente. Argumentamos a favor ou contra crenças relativas ao real, a história e ao futuro. Somos animais do verbo, quiçá muito mais do que animais da Razão (com “R” maiúsculo). Temos razões, umas mais outras menos sólidas, para crer, preferir e agir em todas as situações. Nosso fundamento, não é o de uma verdade ou de uma razão inconteste, mas de uma razoabilidade comunicativa, apenas provável e verossímil.

A escola é um espaço privilegiado da conversa, da negociação, do entendimento e da feitura do jogo democrático. Nela saberes, vivências, oportunidades e normas se ligam de modo a refletir, de maneira específica, o modo de existir de uma comunidade. Caso contrário, a comunidade não passa de uma mera abstração sociológica. Se a violência está dentro da escola, é porque está também fora dela, em toda uma rede de relações sociais que reproduz a crueldade e o abuso da força a todo instante e em todo lugar.

De nada adianta gradear as janelas, instalar dispositivos de segurança e equipar as rondas escolares se a comunidade não participa ativamente da vida escolar. Os estudantes não podem ser tratados como agressores ou vândalos em potencial, não devem ser temidos, mas sim respeitados pelos professores. Respeitados enquanto sujeitos livres, autônomos e diversos em relação ao gênero, a etnia, a orientação sexual e as demais preferências culturais. Onde há medo, não há diálogo e nenhuma argumentação pode se sustentar onde a força gera o direito.

Com a implementação do Programa Nacional de Segurança com Cidadania – PRONASCI na Bahia, que prevê um amplo leque de investimentos, o principal desafio das áreas sociais do governo do estado, em particular da Secretaria de Educação – SEC, é o de atuar precisamente nas raízes sócio-culturais da violência. Nesse sentido, a SEC está no momento realizando ações que vão desde a formação dos professores em diversidade e direitos humanos, a abertura das escolas nos finais de semana, até a instalação de conselhos comunitários de segurança nas escolas. Mas essas medidas só serão eficazes se forem baseadas no diálogo e no acordo, como horizonte possível. Uma educação para a paz, será também uma educação do diálogo.
Ricardo Henrique Andrade
Professor de filosofia da UFRB

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